De todas as crianças do parque, identifiquei-me com o menino de cabelo branco e camiseta roxa.
Eu esperava a hora passar, enquanto observava a profusão de crianças a brincar. Atentei-me ao tal menino, que, minutos atrás, fazia o inferno da vida de uma garota que supus ser sua irmã mais velha. Ele a provocou, empurrou e tirou sarro até que ela resolveu retrucar: deu-lhe uns bons sopapos, arrancou-lhe algumas lágrimas, foi para longe, deixando-o cabisbaixo, a quicar a sua bola de borracha e provavelmente pensando em como o mundo era injusto.
Mais rápido do que qualquer psicólogo infantil preveria, o mesmo menino quase albino da camiseta roxa já tinha parado de se lamentar e estava brincando de bola com outra menina. Não sei se sua irmã, acredito que não. A brincadeira fluiu pacificamente até que a garotinha arremessou, sem querer, a bola para muito longe. E ele, é claro, jamais perdoaria um deslize tão grave. Deu um jeito de espantá-la com a sutileza de um tornado e ficou ali, sozinho, obtendo sucesso zero ao tentar quicar sua bola no gramado macio.
Após muita insistência, o menino roxo, ops, digo, o menino da camiseta roxa resolveu dar uma segunda chance à menina que jogou a bola muito longe. Mas ele fez suas exigências. Ela não poderia mais segurar a bola. A ela só caberia observar. Tarefa tão maçante que não tardou para que ela desse um basta, pegasse o seu patinete e fosse para o outro extremo do parquinho, com a cara amarrada. O menino reagiu com desdém e foi brincar nos escorregadores, fingindo entusiasmo. Depois que escorregou do brinquedo mais alto, ele sacudiu a poeira e me encarou, daquele jeito que só as pessoas que se entendem muito se olham.
O menininho de cabelo branco e camiseta roxa é o dono da bola, mas não tem com quem brincar.
Eu esperava a hora passar, enquanto observava a profusão de crianças a brincar. Atentei-me ao tal menino, que, minutos atrás, fazia o inferno da vida de uma garota que supus ser sua irmã mais velha. Ele a provocou, empurrou e tirou sarro até que ela resolveu retrucar: deu-lhe uns bons sopapos, arrancou-lhe algumas lágrimas, foi para longe, deixando-o cabisbaixo, a quicar a sua bola de borracha e provavelmente pensando em como o mundo era injusto.
Mais rápido do que qualquer psicólogo infantil preveria, o mesmo menino quase albino da camiseta roxa já tinha parado de se lamentar e estava brincando de bola com outra menina. Não sei se sua irmã, acredito que não. A brincadeira fluiu pacificamente até que a garotinha arremessou, sem querer, a bola para muito longe. E ele, é claro, jamais perdoaria um deslize tão grave. Deu um jeito de espantá-la com a sutileza de um tornado e ficou ali, sozinho, obtendo sucesso zero ao tentar quicar sua bola no gramado macio.
Após muita insistência, o menino roxo, ops, digo, o menino da camiseta roxa resolveu dar uma segunda chance à menina que jogou a bola muito longe. Mas ele fez suas exigências. Ela não poderia mais segurar a bola. A ela só caberia observar. Tarefa tão maçante que não tardou para que ela desse um basta, pegasse o seu patinete e fosse para o outro extremo do parquinho, com a cara amarrada. O menino reagiu com desdém e foi brincar nos escorregadores, fingindo entusiasmo. Depois que escorregou do brinquedo mais alto, ele sacudiu a poeira e me encarou, daquele jeito que só as pessoas que se entendem muito se olham.
O menininho de cabelo branco e camiseta roxa é o dono da bola, mas não tem com quem brincar.
21 de julho de 2010 às 09:55
Quem sabe assim ele não aprende a dividir a bola?! Lindo, Camis, demais!
21 de julho de 2010 às 12:51
Nóssa! Me arrepiei e entendi Camis... perfeitamente...Lindo texto!
21 de julho de 2010 às 16:44
vc está cada vez melhor!
muito bom mesmo, menina.
um dia a gente aprende. digo a gente porque sou desse time também.
21 de julho de 2010 às 23:10
Nossa, que lindo Camis, perfeito este texto, vc me surpreende cada vez mais.
Saudades
8 de outubro de 2010 às 16:54
triste fim do menino de roxo.. ohhhhh