Vitamina C

19 de ago. de 2009 - não enviada por Camila Rufine 10 comentários
Na cozinha, meu pai descascava e chupava laranjas na pia, quando eu entrei para conversar qualquer bobagem. Ele se virou e me entregou uma tira longa da casca da fruta.

- Toma, filha, pra você descobrir quem será seu namorado.

Eu, ainda sem entender, fitei-o com um olhar exprimindo dúvida e descrença por uns dois segundos, até lembrar da brincadeira infantil que consiste em segurar uma ponta da casca da laranja e girá-la enquanto se diz o alfabeto (a letra na qual a casca arrebenta é a inicial do suposto futuro amado). Explodi numa gargalhada, admirada pela memória do meu velho. Entrei no clima e, em tom de desafio, disse animada:

- Vamos lá, então!

E comecei a girar, enquanto soletrava:

- A, B, C, D...

A tira se desfez e começamos a adivinhar:

- Daniel!? Danilo!? Diego!? Diogo!? ... Douglas!!! (é, acho que levei muito a sério)

- Donizildo!? Damião!? ... Demétrio!!! (é, meu pai não muda mesmo)

Rimos, ao lembrar da história que envolvia o nome 'Demétrio' e depois voltamos a ficar sérios. Eu, um pouco demais. Ele, ao perceber isso, entregou-me outra casca de laranja e, com o ar de quem sabe de todas as artimanhas do mundo, olhou seriamente pra mim e entregou o jogo:

- Não se preocupe, filha. Pra dar a inicial que você quer, é só girar devagarzinho e dar um solavanco quando chegar na letra certa.

Seria tão bom se nossa vida amorosa se resolvesse descascando muitas laranjas e dizendo o alfabeto bem rápido.

Ps:

10 de ago. de 2009 - não enviada por Camila Rufine 5 comentários
A notícia que você me deu caiu exatamente como a segunda porção de sobremesa após a orgia gastronômica de um jantar familiar de natal: senti uma grande azia, seguida de um impulso de vômito. Só que eu estava de barriga vazia. Foi apenas a minha cabeça que se sentiu abarrotada com aquela única frase - quatro palavras carregadas de informação pesada, malígna, desesperante. Então meu cérebro começou a mandar confusamente mensagens errôneas ao estômago. Uma tentativa tola de botar pra fora o que não faz bem, mas que só funciona com a comida que ingiro e não com as palavras que preferia nunca ter ouvido. Essa sensação já havia sido experimentada por mim algumas vezes em contextos parecidos, mas só fui capaz de entendê-la há alguns dias, após assistir a uma mocinha desses seriados americanos dizer ao amigo ‘acho que vou vomitar um pouquinho’ depois de receber dele uma notícia tão assustadora quanto aquela que você me deu, meses atrás.

Ps 2: Feliz dia dos pais atrasado.

Desapego

1 de ago. de 2009 - não enviada por CamilaRufine 5 comentários
Enquanto lavo a frigideira,
Admito: não foi assim, tão bom...
Preciso mesmo é de um coração de teflon.