Nem dragão, nem borboleta...

29 de mai. de 2009 - não enviada por Graci 4 comentários
Aos 22 eu aprendi a dizer sim. E só isso já vale por muita coisa.

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Biode(sa)gradável

27 de mai. de 2009 - não enviada por CamilaRufine 7 comentários
Sinto a cabeça doer antes mesmo de acordar. Isso explica o pesadelo. Levanto com o pé esquerdo e dou de cara com o espelho. O cabelo já está oleoso, de novo. A franja, irreparável. Eu deveria usar xampu de laranja. Na verdade, a linha completa da fruta, já que estou um bagaço dos pés à cabeça.

Lavo o rosto pra acordar. Odeio esse sabonete de erva doce que não acaba mais. E eis que surge uma espinha interna na testa. Não entendo o nome, já que estas são as mais visíveis. Eca, o creme dental também tem gosto de erva doce. Confiro se não estou escovando os dentes com sabonete. Não estou. Tomo um café da manhã chocho e vejo que o tempo está nublado. Lembro que não sei dirigir na chuva e prevejo que não passarei na autoescola.

Finjo otimismo e vou cumprir meu destino. O teste é na outra cidade. Droga de cidade pequena. Droga de menstruação que não acaba. Ops. Será que lembrei de colocar absorvente? Mais isso agora, pra me deixar mais tensa. Calma, você não precisa ficar nervosa, isso não te ajudará em nada. Merda, dá pra se acalmar?!

Espero em pé. Chuva que chove mas não molha. Estômago vazio há horas. O cabelo seboso e armado. Pelo menos não esqueci do absorvente. Chegou a minha vez de treinar a direção. Preferenciais loucas e ruas não sinalizadas. É claro que não vou conseguir.

Chega a hora do exame. Baliza perfeita. Mas o carro não dá a partida em terceira. É uma pena. Eu estava certa: reprovei. Eu e as outras duas, pelo menos. A tragédia coletiva ajudou a me confortar. Silêncio total no carro de volta pra casa. Ironicamente o sol aparece. E essa dor de cabeça que só piora...

Ligo para minha mãe que acha que estou brincando. Lamento que não. Volto pra casa. O comprimido mergulha de barriga no meu estômago vazio. Enfio uma agulha na espinha. Espremo até ela se jogar contra o espelho. A espinha murcha, a testa incha. A cabeça para de doer, mas o estômago começa a reclamar. Almoço um salgadinho às quatro da tarde. Às quatro e quinze estou com fome novamente.

Na tevê passa ‘O náufrago’, então lembro daquela professora do primeiro ano de Jornalismo. Quero chorar. Choro duas lágrimas que saem forçadas. Sinto uma vontade imensa de abraçar aquela pessoa que não tenho porque não quero. A garganta dói porque não chorei o quanto devia. O chuveiro não esquenta. A unha lasca. Preciso tirar a sobrancelha.

Então penso que dizer que meu dia foi um lixo é uma ofensa ao lixo. Concluo que meu dia foi chorume. Uma fina safra de chorume do chorume do chorume. Decido que é melhor dormir mais cedo hoje. Mas sou capaz de apostar comigo mesma que terei insônia.

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Sobre abotoar o paletó

17 de mai. de 2009 - não enviada por CamilaRufine 3 comentários
Nessa madrugada sonhei que tinha conhecido sua mãe, só que ela não tinha uma dúzia de cachorros. Eu e você éramos apenas amigos. Muito mais do que somos hoje, que nem conversamos mais. Saímos de carro da casa da sua mãe e passeamos por ruas deconhecidas. Você estava sereno como sempre, com aquela camiseta preta desbotada. Mais pálido, mais bonito. Eu parecia estar desinibida. Estranho, não? Fiz uma piadinha tipicamente autopejorativa sobre mim no volante e, derrepente, sofremos um grave acidente de carro. Lembro que no próprio sonho senti vergonha pela ironia da piada besta que acabara de fazer. Eu quase não me feri, ao contrário de você que sangrava muito e estava desacordado. Pedi socorro aos que estavam por perto. Eles tinham celular. Em um milésimo de segundo você voltou a ser mais que um amigo. Então senti medo. Medo de você morrer não sabendo. Fiz de tudo pra te acordar, apenas pra te dizer três verdades. Ao fim de cada uma, eu dizia: 'está entendendo?'. Você, que fazia esforço para continuar acordado, acenava com a cabeça que sim. Não tardou e o socorro chegou. Perguntei a um dos enferemeiros que te colocou na ambulância se você ia ficar bem. Ele me olhou com o descaso de quem está cansado de ver morte e disse que, em todos os seus anos de trabalho, nenhuma pessoa que tenha perdido tanto sangue resistiu. Ele estava certo. Nessa madrugada, você morreu até eu acordar. Mas morreu sabendo de coisas que, se depender de mim, morrerão comigo. Só comigo.

Ps: hoje a tarde, procurando vídeos musicais na internet, encontrei sem querer uns do Joe Bonamassa. Pode ser um sinal, mas foda-se.

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Enquanto isso, no Jardim II: O retorno

5 de mai. de 2009 - não enviada por CamilaRufine 5 comentários
[Refeitório. Hora de almoço.]

- Eu não vou almoçar aqui com vocês, senão eu chego em casa e minha mãe fica brava de eu não comer a comida dela.
- Você tem mãe, tia?
- Tenho.
- E pai?
- Sim...
- (Olhar de espanto) Então você é filha também?

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