“Já li tudo, cara, já tentei macrobiótica psicanálise drogas acupuntura suicídio ioga dança natação cooper astrologia patins marxismo candomblé boate gay ecologia, sobrou só esse nó no peito, agora faço o quê?”
( Caio Fernando de Abreu, Morangos Mofados)
Não, não há motivo.
Não quero que você venha me dizer o quanto a vida é linda e as possibilidades fantásticas, não me iluda. Hoje acordei bem, mas, sem perceber, a saliva azedou e fiquei amarga, pensando nesse zilhão de coisas que consegui ignorar ainda sob efeito analgésico e antiespasmódico.
Não foi a cerimônia no Exército ou o encontro com aquele ex que eu nem gostava. Não foi a chuva molhando meu pé que não esquenta. Não foi o e-mail não recebido. Não foi o salário baixo nem o almoço salgado, muito menos a batida de carro.
O problema, meu bem, sou eu, sempre foi, por que, afinal, esperar tanto de si e do mundo não pode ser normal, me diz, não é? Claro que não, pare com isso, te escuto dizer enquanto balança a cabeça e vira as costas, demência a minha assumir, loucura absoluta tentar explicar, insanidade esperar que você compreenda, eu sei.
Mas, acontece que, acontece sempre, não acontece, me diz, é possível? Não acontece e o tempo passa passa passa e quando percebo é inverno, a temperatura é menor que dez graus e estou ali de regata, observando os desenhos que deixei nas primeiras voltas, tentando largar todas as angústias aumentando a velocidade, arfando, o tempo passando passando passando faz quanto tempo já?
É tempo suficiente, me diz, chegou a hora de começar a fazer sentido ou eu é que não consigo ver, você sabe, me fale, ta voltando a doer mas eu não queria, dessa vez não. Tinha até esquecido como é, mentira, não tinha, estava fingindo até para mim mesma, mas não, não é suficiente, nunca é, desde sempre... Por quê?
Sei só que sobrou uma garrafa de vinho barato, alguns poemas gastos de Vinicius, uma dezena de diários e a procura que não cessa, mas, não corre, um pouco de saliva. Amarga.
Cápsulas intactas.
( Caio Fernando de Abreu, Morangos Mofados)
Não, não há motivo.
Não quero que você venha me dizer o quanto a vida é linda e as possibilidades fantásticas, não me iluda. Hoje acordei bem, mas, sem perceber, a saliva azedou e fiquei amarga, pensando nesse zilhão de coisas que consegui ignorar ainda sob efeito analgésico e antiespasmódico.
Não foi a cerimônia no Exército ou o encontro com aquele ex que eu nem gostava. Não foi a chuva molhando meu pé que não esquenta. Não foi o e-mail não recebido. Não foi o salário baixo nem o almoço salgado, muito menos a batida de carro.
O problema, meu bem, sou eu, sempre foi, por que, afinal, esperar tanto de si e do mundo não pode ser normal, me diz, não é? Claro que não, pare com isso, te escuto dizer enquanto balança a cabeça e vira as costas, demência a minha assumir, loucura absoluta tentar explicar, insanidade esperar que você compreenda, eu sei.
Mas, acontece que, acontece sempre, não acontece, me diz, é possível? Não acontece e o tempo passa passa passa e quando percebo é inverno, a temperatura é menor que dez graus e estou ali de regata, observando os desenhos que deixei nas primeiras voltas, tentando largar todas as angústias aumentando a velocidade, arfando, o tempo passando passando passando faz quanto tempo já?
É tempo suficiente, me diz, chegou a hora de começar a fazer sentido ou eu é que não consigo ver, você sabe, me fale, ta voltando a doer mas eu não queria, dessa vez não. Tinha até esquecido como é, mentira, não tinha, estava fingindo até para mim mesma, mas não, não é suficiente, nunca é, desde sempre... Por quê?
Sei só que sobrou uma garrafa de vinho barato, alguns poemas gastos de Vinicius, uma dezena de diários e a procura que não cessa, mas, não corre, um pouco de saliva. Amarga.
Cápsulas intactas.
10 de maio de 2010 às 21:44
Voce eh das minhas. Sem mais.
11 de maio de 2010 às 16:47
...
12 de maio de 2010 às 23:54
Tô me sentindo assim, com adicional TPM e chuva. Sem vinho.
13 de maio de 2010 às 12:05
" Esperar tanto de si e do mundo não pode ser normal".
Achei lindo.