Seu Adolfo, velho Nêne...

26 de fev. de 2010 - não enviada por Graci
São dez anos, quem diria. Parece que foi ontem que eu aprendi a diferença entre a verdade crua e o eufemismo.

Lembro dos meus trejeitos aos 13 anos, do conjunto de moletom cinza, da pasta roxa, da professora querida dizendo que você tinha falecido, da minha pergunta interna naquele momento sobre haver dor parecida e do porque dela não dizer “morrido“. Preferiu falecido e até hoje essa palavra me lembra aquela situação.

Ainda hoje eu recordo do senhor sentado naquela varanda, olhando para o nada. Me encontro vendo a última vez em que vi o senhor, sentado na cama do quartinho dos fundos, cada vez mais magro e escondido debaixo de seu chapéu de palha. E penso, vô, o quanto eu deveria ter sentado do seu lado e dito que te amava, que o senhor sempre foi o meu preferido.

Às vezes eu penso que não precisava, que o senhor sabia disso.
E lembro do milho verde que o senhor assava na boca do forno, das nossas procuras pelas amoras no mato, daquele meu regador vermelho perdido no córrego lá na roça, enquanto a gente procurava por girinos.

Eu não deixei de sentir saudade, nem mesmo de imaginar como seria se o senhor estivesse aqui conosco. Cada vez que as redes chegam cheias das pescarias eu lembro daquela tarde, de só nós dois no barco e das fantasias em que o senhor me fez acreditar. Lamento por não o ter por perto para ensinar para o Totonho um pouco do que aprendi contigo, mas penso que, pela sem quantia de saudade que o senhor deixou no pai, é seu o brilho que vejo nos olhos dele, sempre, mesmo sem o chapéu.
Eu continuo perdida, tanto quanto o senhor.

4 Response to "Seu Adolfo, velho Nêne..."

  1. Paula de Assis Fernandes Says:

    Como que pode, né, Graci... acho que os avós não deveriam ir nunca. Porque são eles que mimam a gente, que ensinam parte das coisas mais legais que aprendemos na vida. São com eles que, infelizmente, eu e você aprendemos o quanto dói, de verdade, uma saudade.
    Lindo, Graci. Eu jamais escreveria melhor. Amo vc.

  2. Camila Rufine Says:

    Eu também já perdi um avô. Ele foi a primeira pessoa próxima de mim que perdi e muita coisa na minha perspectiva de vida mudou desde então. Sempre lembro quando dormia na fazenda e meu avô me levava pra escola dando conselhos do tipo "reprove o máximo que você puder no colégio, para aproveitar ao máximo essa fase".

    Lindo texto, Graci.

  3. Anônimo Says:

    Me encantei *.*

    E pode aceitar esta afirmação como verdade absoluta! Tão teria porque comentar se não fosse real.

    Se cuide.


    - Raissa

  4. Michele Matos Says:

    Até senti vontade de ligar pro meu vô hoje mesmo. =/